ABL participa de celebração pela independência
- Miram Hermes
- 2 de jul.
- 5 min de leitura

A Academia Barreirense de Letras (ABL) participou no dia 1º de julho de um evento virtual para celebrar a independência da Bahia e do Brasil, representada pelo confrade João Paulo Pinheiro e pela presidente, Marilde Guedes.
O encontro histórico foi organizado pela Academia de Letras da Bahia (ALB) em parceria com a Rede de Integração Cooperativa das Academias de Letras da Bahia (Rica), e reuniu 13 academias, com apresentações diversas sob o tema da independência.
‘Para além de um grito: a verdadeira independência do Brasil’ foi o assunto abordado pelo escritor e historiador, João Pinheiro. Membro da ABL e da Academia Santa-ritense de Letras (ASL), o confrade Raimundo Corado representou na ocasião a ASL, falando sobre ‘A influência da maçonaria na independência da Bahia’.
Recheado de poesia e história viva, o encontro foi acompanhado por diversos membros da instituição de Barreiras, bem como escritores e amantes da literatura de outras regiões do estado.
Seguem abaixo na íntegra os textos declamados pelos confrades da ABL:
“DOIS DE JULHO”
A INFLUÊNCIA DA MAÇONARIA NA INDEPENDENCIA DA BAHIA
Autor: Raimundo A. Corado
Santa Rita de Cássia-BA, 27 de junho de 2025
Começo cumprimentando
Nossa querida Bahia
Saúdo também a RICA
Em nome da Academia
Sobre o tema deste evento
Vale fazer cumprimento
Também à “Maçonaria”
Na Bahia, o dois de julho
Tornou-se dia sagrado
Faz lembrar a Independência
Que o tornou um feriado
Foi celebrada a vitória
Para nossa honra e gloria
Com desfile realizado
Desfile do dois de julho
Um cortejo foi formado
Percorrendo Salvador
Com cartaz do resultado
Povo alegre e satisfeito
Lutando por seu direito
O Ato foi consolidado
Negros, mulheres e indígenas
Mostraram serem iguais
Na busca da liberdade
Com seus papéis cruciais
Da Lapinha ao Campo Grande
O movimento se expande
Com elogios pessoais
Cartazes com homenagens
Demonstração de coerência
Maria Quitéria é lembrada
Símbolo de resistência
Maria Felipa, guerreira
E Joana Angélica, a freira
Gigantes da Independência
Sob influência maçônica
Desde sua preparação
Emprestou ideologia
Em toda organização
Com ideais de liberdade
Espirito de igualdade
O empenho não foi em vão
Na Conjuração Baiana
Como ato preparatório
Membros da maçonaria
Munidos de repertórios
Aplicou sua estrutura
Pra conseguir a ruptura
Cortando laços inglórios
Mil oitocentos vinte e três
Na província da Bahia
Quando a tropa Portuguesa
Aos Baianos se rendia
Com as guardas abaixadas
Vencidas e derrotadas
Perderam a autonomia
Do Bairro dos Periquitos
Disfarçada, pra lutar
A Soror foi atingida
Na intenção de matar
Enfrentando arma bélica
Nossa “Soror” Joana Angélica
Não conseguiu escapar
Importante destacar
Maria Felipa Oliveira
Mulher negra combatente
Conhecida marisqueira
Que a bem da independência
Mostrou grande resistência
Sempre agindo na trincheira
Justamente em dois de julho
Saíram de Salvador
Era o fim da ocupação
Que custou suor e dor
Tornamos independentes
Com luta dos resistentes
Muita garra e muito amor
Nasce o sol a dois de julho
Brilha mais que o primeiro
É sinal que neste dia
Até o sol é brasileiro
Diz o Hino da Bahia
Com sua linda melodia
Ao descrever o roteiro
Dois de julho, é também
Um marco fundamental
Grande Oriente Maçônico
A nível Estadual
Sessenta e quatro, corria
Instalou-se na Bahia
A irmandade universal
Não quero ser enfadonho
Falta muito pra ser dito
Mas, se alongar o cordel
Fica enfadonho, repito
Temos tempo limitado
Para ser bem declamado
Toda atenção vos concito
Parto para o encerramento
Expressando gratidão
Primeiramente à Rica
Por toda organização
Que de forma acolhedora
Acolhe Auxiliadora
Com sua apresentação
Santa Rita está presente
Vem trazendo seu recado
Cordel sobre dois de julho
Aos baianos consagrado
A todos, um forte abraço
O pedido que ora faço
Divulgue o poeta Corado
Para além de um grito: a verdadeira independência do Brasil!
Autor: João Pinheiro
Quando falamos da independência do Brasil, a imagem mais cristalizada no imaginário popular ainda é a do 7 de setembro de 1822: um príncipe europeu, montado em seu cavalo, proclamando “Independência ou morte” às margens do riacho do Ipiranga. É uma cena dramática, construída para os livros de história e para a pintura de Pedro Américo. Mas ela resume uma farsa simbólica, um gesto político protagonizado pelas elites. Aquilo não foi independência. Foi, no máximo, o início de uma longa jornada — e uma jornada que exigiu muito mais do povo do que de qualquer trono.
A verdadeira independência do Brasil não nasceu de um grito solitário. Ela nasceu da resistência. Da guerra. Da coragem coletiva que não figura nas narrativas tradicionais. E é por isso que estamos aqui para falar sobre o 2 de Julho — data que marca a libertação da Bahia das tropas portuguesas, e que deveria ser tratada como um marco nacional.
A Bahia foi o maior campo de batalha da independência brasileira. Enquanto em muitas províncias a ruptura foi resolvida com diplomacia ou acordos políticos, os baianos tiveram que ir à luta — literalmente. De 1822 a 1823, travou-se uma guerra sangrenta. E o mais impressionante: com ampla e decisiva participação popular. Não foram apenas soldados treinados: foram lavradores, pescadores, homens livres, escravizados, indígenas e, principalmente, mulheres. A independência da Bahia foi um levante popular, uma explosão de vontade coletiva por liberdade.
E é nesse ponto que a historiografia tradicional falha. Nos venderam a ideia de que o Brasil é um país pacífico, quase avesso ao conflito. Mas isso apaga capítulos inteiros da nossa história de resistência. Apaga Canudos, Balaiada, Revolta dos Malês, Guerra do Contestado — e, claro, as Guerras de Independência. Dizer que o Brasil nasceu pacificamente é, no mínimo, injusto com quem morreu por essa nação nascer.
Os heróis do 2 de Julho não usavam coroas ou fardas pomposas. Usavam o que tinham. Eram o povo em armas. E muitos nomes precisam ecoar mais alto:
Maria Quitéria, que desafiou o conservadorismo ao se alistar como homem e provou seu valor no campo de batalha.
Maria Felipa, mulher negra, marisqueira, que liderou outras mulheres para incendiar embarcações inimigas com urtiga e pimenta.
Joana Angélica, religiosa que tombou à porta do Convento da Lapa, tentando impedir a entrada violenta dos soldados portugueses.
Corneteiro Lopes, cuja corneta anunciou não a ordem de ataque, mas o triunfo do povo baiano.
João das Botas, destemido nas águas da Baía de Todos-os-Santos, enfrentando a marinha inimiga.
E até Luís Alves de Lima e Silva, o futuro Duque de Caxias, que iniciou sua formação militar nesse conflito real e mortal.
Esses nomes, que deveriam estar em todos os livros escolares, resistem hoje no canto do Hino ao 2 de Julho. Mas atenção: esse hino não é só uma peça decorativa, a ser cantada sem pensar. Ele menciona batalhas — Pirajá, Cabrito, Itaparica, Lapinha, Paripe — que deveriam ser conhecidas, estudadas, analisadas. Cada verso carrega sangue, suor e esperança de um povo que não aceitou a dominação estrangeira. Decorar o hino é pouco. É preciso compreendê-lo.
O 2 de Julho é mais que uma data. É um manifesto. É a lembrança viva de que a independência brasileira foi conquistada com luta popular, com sacrifício e com dignidade. E, por isso, essa data deveria estar no calendário nacional, ser ensinada nas escolas de Norte a Sul, e reconhecida como o verdadeiro marco da nossa liberdade política.
Porque no Brasil, a independência não foi proclamada de cima pra baixo. Ela foi construída de baixo pra cima — nas ruas, nos morros, nos conventos e nos campos de batalha. E é por isso que devemos honrar não só o grito, mas principalmente a luta.
O Brasil precisa ouvir essa história contada com a força que ela merece!

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