Membro da Academia Barreirense de Letras (ABL), o artista plástico e poeta Inácio Cordeiro participou da Pegada do Mastro no final de semana, recitando uma poesia em homenagem à tradição centenária na sua terra natal, São Desidério.
Com mais de 100 anos de história, o evento faz parte do calendário cultural do município. Tem organização da Secretaria Municipal de Esporte, Cultura e Lazer em parceria com a equipe organizadora da festa da padroeira, comemorada dia 19 e do Divino, no dia 20 de setembro.
Cerca de 300 pessoas participaram este ano, com uma caminhada de 06 quilômetros, desde a igreja matriz até uma mata em Cabeceira da Mamona, onde, sob frondosas mangueiras, o grupo descansou, dançou samba de roda ao ritmo dos instrumentos musicais e almoçou.
No retorno homens e mulheres carregaram duas árvores de diâmetro fino e altas para servirem de mastro das bandeiras para as festas religiosas, que serão hasteadas junto da igreja nos próximos dias.
A seguir, a poesia de Inácio Cordeiro, com nuances históricas deste evento de caráter religioso e popular, que faz parte da cultura regional.
Pegada do Mastro de São Desidério
Por Inácio Cordeiro
Uma tradição bicentenária
Com seus ritmos e ritos.
Na sua toada de ida e de chegada
Indo, estouram os fogos de artifício.
Todos os pegadores em movimento na concentração
Ajeitam suas cargas: latas de farofas e caixas de bebidas
Enquanto isso, não para a gaita e a percussão
Com samba para animar o folião antes da partida.
Um mês antecedente ao evento
É a retirada de dois mastros:
Um, para o festejo do Divino Espírito Santos
Outro, para Festa de Nossa Senhora da Aparecida
Dois mastros são árvores
Pelos Capitães escolhidas
Muito retas, bem linheiras
Lavram-nas, tirando cascas e galhos; deixando-as quase polidas
Dando um tempo para a cura das madeiras
A pegada é no primeiro sábado de setembro
São homens e mulheres decididas
Dispostos a trazerem sobre os ombros
Num percurso sinuoso de diversas subidas e descidas
O antigo pé de manga é o nosso acampamento
Próximo ao riacho, quase na beira.
30 metros de diâmetro é sua cobertura.
Aqui acontece o samba de levantar poeira
Também causos, púias, risadas... que fazem parte dessa cultura.
Bem apreciada, a cachaça com raiz ou pura,
Pinga com limão ou a saborosa batida
Pra equilibrar, um pedaço de rapadura
Rebater a sede, é na fonte de água límpida.
Mas na hora que a fome aperta,
Todos se fartam de comida:
Carne assada no espeto de vara, servido na hora,
Farofa ade ovo, de galinha ou de porco, na lata trazida.
De barriga cheia, maioria vai descansar
Embaixo das frondosas copas, sobre as folhas caídas,
Fala de futebol, política e da festa que virá:
Do Divino ou de Nossa Senhora Aparecida.
O evento festivo é uma linda história...
Seus precursores: João Montalvão, João Preto, Dazilão...
Estão guardados em nossa memória
Deixando fértil nossa imaginação
Há um fato que jamais gostaria de comentar:
São mais ou menos três décadas a participar,
De lá pra cá, ano após ano, vejo o riacho definhar
Triste muito triste! Só me resta lembrar!
O percurso era cortado diversas vezes
Pelo mesmo riacho de água corrente
Que pelo caminho, aliviava nosso cansaço e matava a nossa sede
Renovando o nosso fôlego para seguir adiante
Rabeia o pau!
João Montalvão,
Zé da Ana e
Dazilão!
Rabeia o pau!
Almiro da Oliva,
João Preto e
Osvadinho da Jandira!
Rabeia o pau!
João Borola,
Nelson da Ana e
Avelino Porca!
Axé! A todos que no passado
Com sua religiosidade festiva
Deixaram aos sucessores
Este inestimável legado.
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