Falo aqui enquanto representante da Academia Barreirense de Letras. Foi um momento ímpar na capital do Oeste da Bahia, Barreiras. Quero acreditar que foi uma das primeiras e/ou a primeira vez que se discute uma temática identitária de reparação com os ascendentes negros desta terra que possuem sua matriz étnica em África.
Ao longo da festa foi importante observar exposições de estudantes negros, apresentações teatrais, palestras e lançamentos de livros sobre a temática e diversos outros assuntos e literaturas. Também ficamos atentos em relação aos lugares que os visitantes pudessem ter acesso à compra de livros, sinalização para os visitantes, a limpeza das ruas e a disponibilidade de banheiros.
Nesta sua sexta versão, acredito que o Festival Literário Internacional de Barreiras deve entrar no calendário de todas as instituições curadoras: IFBA E NTR11, UFOB, UNEB e das escolas municipais e particulares. Ela já é uma festa (re) conhecida, movimenta os amantes da literatura de Barreiras e do Oeste da Bahia. Nota-se também que nos últimos anos atraiu escritores (as) de outras mesorregiões baianas, bem como de estados brasileiros e outros países.
Desse modo, acreditamos que para a sua consolidação é preciso uma participação mais efetiva de todas as curadorias, uma abertura maior da Subsecretaria de Cultura para assimilar e acolher as observações, as sugestões e as críticas atentas dos representantes das curadorias e e participantes da festa. Também focarmos no propósito maior da festa: a leitura, a escrita e, mormente a literatura. Para tanto, precisamos discutir incentivos e políticas públicas, bem como o envolvimento efetivo das instituições curadoras e da população.
Depois de 02 anos participando enquanto representante da Academia Barreirense de Letras, ouvindo os participantes e os colegas da Academia posso afirmar que precisamos de incentivos públicos municipais, estaduais e federais. Tais incentivos podem potencializar ainda mais os escritores (as) locais e regionais publicar mais as suas escritas. Também apoiar a maior participação de editores e editoras locais, regionais e internacionais. Além disso, incentivarmos os leitores (estudantes e professores) na compra dos livros publicados nas Flibs.
Afinal, apesar de estarmos no meio do desenvolvimento econômico do agronegócio, uma parcela significativa da população do nosso município e da região Oeste não possuem condições socioeconômicas para adquirir livros e outros elementos culturais. Livros e cultura ainda são muito inacessíveis à classe popular brasileira!
Sabemos que editar, publicar e consumir livros no Brasil não é fácil. O livro ainda possui o valor alto para a nossa população. Todavia, devido ao empenho individual dos escritores temos uma publicação até expressiva em cada versão da Flib.
Desse modo, colocamos uma banca de livro para venda dentro da Academia Barreirense de Letras. Observamos o interesse dos jovens e dos visitantes em relação aos livros, mas, as condições socioeconômicas e falta de incentivo para a leitura é ainda um grande desafio para a nossa festa literária. Percebe-se que há muita vontade de adquirir os livros. Mas, a aquisição ainda é muito pequena durante a Festa Literária Internacional de Barreiras.
Por exemplo, tivemos 39 livros inéditos lançados no auditório da Academia Barreirense de Letras. Se somarmos as coletâneas literárias e cientificas lançadas tivemos mais de 100 escritores só dentro da Academia Barreirense de Letras publicando nesta festa literária. Tudo isso representa a potência literária dos nossos escritores (as). Todavia, se não tivermos vendas e incentivo público e privado para aquisição dos livros para os leitores terem acesso aos livros, à leitura, o nosso maior propósito de um festival literário ficará comprometido ao longo dos próximos anos.
Denota-se que muitos escritores tiveram venda pequena de seus livros, mesmo sendo inéditos e com temáticas diversas. Ressalto que a maioria com títulos relacionados à temática central da Flib23. Diante disso, percebe-se também uma certa decepção no olhar dos escritores e em suas expectativas. Fato que pode desmotivar e atrapalhar a permanência e a volta ao mundo da literatura, bem como a participação nas próximas versões da Festa Literária Internacional de Barreiras.
Diante desse quadro foi possível também notar diversos olhares, falas e expressões de entusiasmo, de alegria em relação a diversidades de atividades que aconteceram em nossa Flib23 dos visitantes locais, regionais e até internacionais. Assim, a meu ver, temos que aproveitar esse prisma para (re) pensar e acrescentar para as próximas versões da Flib novas formas de interatividade ao longo do ano para que tenhamos mais efetividade literária.
Aqui, quando falo de efetividade literária, significa que estou direcionando todas as nossas percepções para a leitura, o debate e a escrita literária. Que a cada ano tenhamos mais estudantes e professores (multiplicadores/multiplicadoras) participando da festa com trabalhos realizados a partir do contato efetivo com a literatura local, regional, nacional e internacional no seu cotidiano escolar.
Afinal, se queremos ser referência literária no Matopiba e termos longevidade efetiva na Festa Literária Internacional de Barreiras temos que ter humildade e fazer mudanças, sejam elas nas formas de incentivo público e privado, na forma de organizar, na comunicação, na participação mais efetivas dos estudantes do Ensino Básico e Superior e, principalmente na relação menos colonialista entre às curadorias. Tudo isso, são desafios que a curadoria geral enfrenta.
Uma festa literária internacional precisa sempre de mais incentivos públicos, de envolvimento das instituições parcerias, participação da população e, principalmente, de escritores e leitores motivados. Teremos de (re) pensar juntos à vinda e permanência do maior número de editoras, de editores, de autores e bem como repensar a participação efetiva nas atividades da Festa Literária Internacional dos próximos anos. .
Acredito que é possível nos próximos anos termos a Festa Literária Internacional de Barreiras um volume maior de livros à venda e, se possível em promoção e/ou doação para incentivarmos a população, os professores (as) e estudantes a mergulharem no mundo da leitura. Enfim, uma boa Festa Literária Internacional de Barreiras se faz também de uma grande e diversa feira de livros!
Todos nós sabemos que apesar de estarmos ao lado de Brasília, não estamos na rota dos voos brasileiros, para vir de ônibus e/ou de carro para Barreiras é longe, é oneroso para muitos editores e editoras. Além disso, uma participação das escolas públicas com mais protagonismo no fazer literário.
Desse modo, iremos trabalhar seriamente mais e mais para consolidar nos próximos quatro anos a nossa Festa Literária Internacional de Barreias para contribuir com esses anseios e sonhos. Os nossos escritores (as) que conhecem outras festas literárias sabem que é possível!
Aqui lembro a todos (as) leitores deste relato que não faço críticas às nossas curadorias, ao setor público, à Academia Barreirense de Letras e à população. Simplesmente, reflito as nossas práxis literárias para transformarmos localmente o papel da literatura na vida educacional e cultural do nosso município e nas suas diversas escalas geográficas (regional, estadual, nacional e internacionalmente).
Como já disse, a Flib é uma realidade local e regional. Ela já possui um timbre internacional. Todavia, temos que reforçar as nossas ações e participações em outras festas literárias, para ampliarmos os nossos horizontes. Desse modo, teremos não só uma cidade educadora, mas, um município, uma região, um estado e um país com leitores que consigam ler a aparência e nas entrelinhas das palavras literárias aqui produzida/divulgada em nossas Flibs.
Obrigado a todos(as) os confrades e confreiras da Academia Barreirense de Letras e a todas as curadorias que contribuíram para a realização da FLIB23. Falhas, erros, críticas e sugestões sempre existiram. O que não podemos fazer é fecharmos os nossos sentidos (olhos) para elas em prol do bom desenvolvimento das próximas versões da Festa Literária Internacional de Barreiras.
Parabéns Barreiras e toda sua população.
Um axé literário para todos(as)!
Dr. Valney Dias Rigonato.
Presidente da Academia Barreirense de Letras. Professor do curso de Geografia e da Pós-Graduação em Ensino da Universidade Federal do Oeste da Bahia, Campus Barreiras..
26/05/2023
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